domingo, 15 de maio de 2011

Os Primeiros Filmes da História do Cinema - Parte 1

Como sabemos (nós, os cinéfilos), a primeira sessão de cinema ocorreu em 1895, no mês de novembro. Os irmãos Lumière (Auguste e Louis) foram os responsáveis por levar cerca de 20 pessoas para ver um trem saindo da estação e trabalhadores saindo da fábrica.

Mas, como também sabemos, ainda não havia enredo nesses filmes. Então, eles não podem ser chamados exatamente de "filmes", entendendo essa palavra como significativa de uma "história" que passa na "tela", com "personagens", "cenário", etc.

Diante disso, nossa missão aqui, hoje, é simples: desvendar e analisar os primeiros filmes da História do Cinema, num período que vai de 1895 a 1910.


O primeiro "filme" é de 1895. Chama-se L'Arroseur Arrosé e é francês. Foi dirigido por Louis Lumière (1864/1948) e tem apenas 44 segundos. Nele, vemos dois "atores", François Clerc e Benoît Duval, num jardim. Um deles está regando as plantas e o outro o atrapalha, pisando na mangueira e molhando-o. O "jardineiro" persegue o outro e o molha também. Apesar de simples, possui um "enredo"...




Nosso segundo "filme" também é de 1895. Foi dirigido por Alfred Clark e produzido por Thomas Edison (1847/1931). Em apenas 18 segundos de filmes, podemos ver 10 homens e 3 mulheres, com roupas antigas, representando a execução da rainha Mary Stuart, da Escócia, em 1587. A atriz está vendada (não sabemos quem é), e é substituída por um manequim, que é decapitado. Além de ter um fundo histórico, esse "filme" possui uma cena de violência, que hoje é usada apenas por filmes de terror ou de impacto.


Nosso terceiro "filme" é de 1896 e foi realizado na França, sendo dirigido por Alice Guy Blache (1873/1968), uma das primeiras mulheres a "dirigir" um filme, senão a primeira. O "filme" em questão se chama La Fée aux Choux (A Fada dos Repolhos). Ele mostra, em 57 segundos, uma mulher, vestida com um vestido claro e com flores no busto, cercada por "repolhos gigantes" (talvez para fazê-la parecer pequena). Ela começa a "tirar" crianças de trás dos repolhos, numa alusão ao mito de que as crianças "nascem de repolhos". Após "tirar" duas crianças, ela apenas mostra uma terceira que talvez seja um manequim...




O quarto "filme" não tem um enredo, mas resolvi colocá-lo, pois é o primeiro beijo da história do cinema. Ele é de 1896, e foi dirigido por William Heise para Thomas Edison. O casal que se beija é formado por John C. Rice (1858/1918) e May Irwin (1862/1938). Eles não eram casados, e haviam dado esse beijo na cena final da peça A Viúva Jones (1895). Thomas Edison os contratou, apenas para repetirem o beijo diante das câmeras. Foi chamado de "repugnante", provocou severas críticas nos jornais e até a polícia teve que intervir, em alguns lugares. Obviamente, o "filme" se chama The Kiss.






O quinto e último filme que veremos hoje chama-se Le Manoir du Diable (A Casa do Diabo), e foi feito em 1896, na França. Em incríveis 3 minutos e dezenove segundos, podemos ver o seguinte: um castelo, onde aparece um morcego voando (vemos que é de mentira a quilômetros). No nono segundo, ele se "transforma" numa pessoa (alusão aos vampiros), e começa a caminhar. Ele "pensa" um pouco, e faz "aparecer" um caldeirão, no segundo 16. No segundo 25, ele faz uma "mágica" e cria uma fumaça, de onde "sai" mais alguém. O que parece ser um servo do "vampiro" fica avivando o fogo do caldeirão até que, no segundo 33, "aparece" alguém dentro do caldeirão. Vemos que é uma mulher e que, logo em seguida, ela está fora do mesmo. O "vampiro" fala algo para ela e a encaminha para uma porta. Em seguida, ele "fala" com o servo e faz aparecer uma espécie de "livro de poções" (talvez um grimório). Ele escreve algo e, no segundo 54, o servo "desaparece" com o livro. No segundo 57, é o caldeirão que "desaparece", com um gesto do "vampiro". No minuto 1:04 ele pega a capa e também "desaparece", logo no momento em que alguém chega. São dois homens, que chegam conversando. Um parece estar mostrando a "casa" para o outro. No minuto 1:13, o servo "reaparece", segurando um tridente, ou algo parecido. Os dois homens parecem não vê-lo, e ele cutuca o traseiro de um dos homens. Ele dá a volta e cutuca o traseiro do outro, e desaparece. Os dois ficam olhando, provavelmente "procurando algo". Um faz menção de fugir e o outro o impede. Mas, após despistá-lo, ele foge. O outro homem fica sozinho na cena (minuto 1:29). Ele fica indo de um lado para outro, gesticulando e "falando sozinho". No minuto 1:40 ele vai sentar num banco que está ao lado da porta, por onde passou a mulher. Repentinamente, aparece um esqueleto, "sentado" nesse banco. Ele dá um salto, e fica observando o esqueleto, totalmente desnorteado. No inuto 1:46 ele faz um gesto com sua espada, como se fosse golpear o esqueleto, que se transforma no morcego. Ele tenta agarrar o morcego que, no minuto 1:53, se transforma no "vampiro" (ou "bruxo", ou o "diabo" do título). Ele fica assustado com a aparição e, enquanto isso, o "monstro" faz "aparecer" o seu servo (1:58). Ele pega sua capa e a joga no chão. O servo se joga em cima dela, e ambos "desaparecem". O homem faz menção de que vai sair mas, no minuto 2:05, aparecem quatro fantasmas, (sabemos por causa dos lençóis brancos), que avançam sobre ele. Ele leva um susto tão grande que "desmaia" (2:12). Os fantasmas "desaparecem" logo em seguida. No minuto 2:16, ele "acorda" e no minuto 2:25 o "monstro" traz a mulher, que estava no outro aposento. Ela está vestida como uma grega (assim como quando saiu do caldeirão). O homem se encanta por ela e se ajoelha pra beijar a sua mão. Nesse momento, ela se "transforma" numa velha ou na morte, com um manto branco e um cajado nas mãos (2:31). O homem dá outro pulo e faz menção de agredi-la. Nisso, aparecem os quatro fantasmas (2:34), e o outro homem (2:37). Os dois vão "agredir" os "monstros", quando aparecem vassouras nas suas mãos, eles começam a andar em círculos (alguma magia, talvez). Um dos homens "foge" por um canto e "reaparece" pela porta onde a mulher saíra, com os "monstros o perseguindo. Ele corre e "se joga" pela sacada, sendo observado pelos outros. No minuto 2:59, os "monstros desaparecem", e o homem fica olhando. No minuto 3:05, ele vai em direção à sacada, parecendo contente, quando depara com o "monstro/vampiro/bruxo". Os dois se enfrentam, até que no minuto 3:10, o homem pega uma cruz que estava na parede, e mostra por "monstro", que se assusta e recua. O filme termina nesse ponto...Sabemos que, além do próprio Méliès (no papel de Mefistófeles), temos aqui a presença da atriz Jeanne d'Alcy (1865/1956), a mais antiga atriz de cinema francesa, no papel da "mulher". Eles eram casados, e ela participou de outros "filmes" dele. 


Esse "filme de terror" foi realizado por Georges Méliès (1861/1938), considerado um dos primeiros diretores e ilusionista, a usar os recursos que o cinema poderia oferecer. Cabe lembrar que os irmãos Lumière não acreditavam que o cinema pudesse ser usado comercialmente, ao mesmo tempo em que Méliès começou a usar esses recursos, justamente para conseguir dinheiro, em troca de seus "filmes". Nesse aqui, por exemplo, ele apenas usou o recurso de "cortar" a película, para dar a impressão de que pessoas e objetos "apareciam" e "desapareciam". Para a época, foi um avanço, e ele pôde "contar uma pequena história", com cenário, personagens e enredo, apenas com alguns truques. Esse pode ser considerado um dos primeiros "filmes de terror" de que temos notícia...Abaixo, Méliès:



Um comentário:

  1. Ola caros, gostaria de tirar uma duvida. Em, "L'Arroseur Arrosé! tem sonoplastia? Como?

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